sábado, 17 de abril de 2010

Um dedinho de prosa com os alunos



Sou descendente de educadores. Meu bisavô, René de Oliveira Barreto, foi um pedagogo de destaque no início do século XIX, assim como seu irmão, Arnaldo Barreto, autor da Cartilha Analytica.  Minha bisavó, Rita de Macedo Barreto (na foto ao lado), escrevia livros de alfabetização para crianças e foi com isso que sustentou com conforto um batalhão de filhos depois da morte prematura do marido.
Mas a coisa não pára por aí. Minha avó paterna também era educadora, como todas as irmãs dela e várias de suas sobrinhas. Lecionava Educação Física, numa época em que a área engatinhava, e foi professora catedrática da Universidade de São Paulo lá pela década de 1930, talvez um pouco depois.
Quanto ao meu pai, não era professor. Era pesquisador científico, especializado em micologia. Eventualmente dava aulas na pós da Faculdade de Agronomia Luiz de Queiróz (USP) e, quando eu me atrapalhava muito na escola, ensinava-me Biologia. Contudo, fazia isso com uma paixão enorme. Tinha jeito para a coisa...
Mas nada disso tinha significado para mim na época em que pensava na carreira que escolheria. Quando menina, jamais sonhei em me tornar professora. Nem ao menos conhecia bem esse histórico familiar e, ainda que tivesse ciência dele, certamente não teria a menor atração por um campo profissional tão desvalorizado. Alimentava outros projetos: seria desenhista, publicitária...
Já às vésperas do vestibular, mudei de ideia e decidi que seria historiadora, que convinha mais a meu jeito bicho-grilo de ser e minha orientação política à esquerda do espectro ideológico. Terminei a graduação na USP, fiz mestrado em História Social, publiquei minha tese. Tudo caminhava bem para o início de uma promissora carreira acadêmica. Todavia, alguma coisa foi maior do que meus planos e conspirou contra eles...
Comecei a dar aula unicamente para ter algum dinheiro com que me sustentar. Era uma atividade que deveria ter começo, meio e fim. Não pretendia prolongá-la. Muito pelo contrário, planejava fazê-la o mais breve possível para alçar logo outros vôos.
Mas, quando me dei conta, estava absolutamente encantada pela sala de aula. Ali não existia rotina. Todo dia eu encontrava uma situação nova que me arrancava do insuportável risco de viver presa ao tédio da mesmice, pois a sala de aula se assemelha a um grande organismo vivo, gelatinoso, flexível, que a cada dia respira em um ritmo diferente e muda de forma. Aquilo me estimulava e desafiava. Exigia reflexão, criatividade, disposição para fazer tudo novo a cada manhã.
No fim, contra todos meus planos e projetos, tornei-me professora, como minhas primas, minha avó e meus bisavôs. Hoje, não me imagino fazendo outra coisa. Por isso, acredito que o amor pela Educação deva ter um componente genético qualquer. Está no sangue. É uma força que se exerce de dentro para fora, maior do que qualquer razão que possa nos aconselhar a seguir outro caminho, onde a remuneração e o reconhecimento público sejam melhores.

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