sexta-feira, 23 de abril de 2010

Música para protestar

Final da década de 1960. De um lado, os Estados Unidos defendendo a ferro e fogo o sistema capitalista, do qual se tornaram os maiores beneficiários; do outro, a União Soviética, buscando difundir a todo custo o comunismo. Entre os dois, o resto do mundo...
Um dos mais cruéis embates dessa queda de braço desenrolou-se em solo asiático, depois que a antiga Indochina, liberta do domínio colonial francês em 1954, dividiu-se em dois estados: ao sul, estabeceu-se um Vietnã  aliado ao Ocidente; ao Norte, sob o comando do principal líder da independência, Ho Chi Minh, instituia-se um Vietnã de orientação comunista.

De acordo com o tratado assinado em Genebra por ocasião da Independência, em  1956, seriam realizadas eleições livres para unificar o país. Contudo, a perspectiva de uma vitória de Ho Chi Minh preocupava o governo estadunidense, que temia o avanço do comunismo na Ásia. Por isso, quando o governo ditatorial de Ngo Dhin Diem assumiu o controle do Vietnã do Sul e determinou a suspensão das eleições, os norte-americanos, mais do que depressa, lhe ofereceram apoio aberto.
A partir de então, o governo sul-vietnamita passou a perseguir sistematica e violentamente nacionalistas e comunistas. Estes reagiram e, em 1960, com apoio dos vietnamitas do norte, formaram uma frente de resistência, a Frente de Libertação Nacional, que impôs uma série de derrotas ao governo de Ngo Dhin Diem.
Incapaz de debelar as forças inimigas, o ditador pediu auxílio aos Estados Unidos. O apoio foi imediatamente enviado e não parou mais de crescer: no ano de 1960, desembarcaram em solo vietnamita 900 soldados norte-americanos. Nove anos depois, 540 mil homens deixavam a América para se juntar às tropas combatentes do outro lado do mundo!
Todavia, a desavergonhada inteferência dos Estados Unidos no Vietnã não trouxe vitória. Muito pelo contrário: as baixas norte-americanas cresciam dia após dia. Os integrantes da Frente, conhecidos como vietcongs, adotavam táticas de guerrilha. Embrenhados pela densa vegetação do Vietnã, misturados à população camponesa, confundiam e atordoavam os soldados ocidentais.
Corria o ano de 1969 e a guerra ainda se arrastava. Contavam-se já aos milhares os jovens cujas vidas haviam sido perdidas no combate, além de outros tantos feridos e mutilados. Muitos voltavam da guerra com serios danos psicológicos, completamente incapacitados.
Na mídia, a crescente divulgação das imagens horrendas da guerra - fotografias comoventes dos cadáveres despedaçados,  dos rostos quase pueris dos soldados norte-americanos contorcidos pela dor e pelo cansaço, das mulheres e crianças vietnamitas tragicamente queimadas pelas armas químicas usadas pelos Estados Unidos, - fez crescer o clamor da opinião pública pelo fim da guerra. Na ensolarada Califórnia nascia assim o embrião do movimento flower and power.
Foi nesse cenário que o rock norte-americano produziu algumas de suas canções mais fortes e engajadas. Neil Young, Creedence Clearwater, Bob Dylan, entre outros, fizeram coro pelo fim do conflito.
Foram anos de pressão e mobilização, cujo desfecho, em algumas ocasiões, foi trágico. Em Ohio, por exemplo, durante uma manifestação pacífica, quatro jovens universitários acabaram mortos pela polícia.
Finalmente, em 1975, os combates no Vietnã chegaram ao fim. Os vietcongs e o Vitenã do Norte tomaram o sul e unificaram o país. Da guerra, além dos mortos (cerca de 2 milhões),  restou a memória da barbárie, imortalizada em músicas inesquecíveis. Essa é Fortunate Son, do Creedence Clarwater.



Fortunate Son
Filho De Um Milionário

Some folks are born made to wave the flag,
Alguns nasceram para agitar a bandeira
ooh, they're red, white and blue.
Elas são vermelhas, brancas e azuis
And when the band plays "Hail To The Chief",
E quando a banda toca "Saudação ao Chefe"
oh, they point the cannon at you, Lord,
Eles apontam os canhões para você, Senhor
It ain't me, it ain't me,
Não sou eu, não sou eu
I ain't no senator's son,
Eu não sou filho do senador, não
It ain't me, it ain't me,
Não sou eu, não sou eu
I ain't no fortunate one, no,
Não sou nenhum felizardo, não
Some folks are born silver spoon in hand,
Alguns nasceram com colher de prata na mão
Lord, don't they help themselves, oh.
Senhor, eles não se ajudam
But when the taxman come to the door,
Mas quando o coletor de impostos chega na porta
Lord, the house look a like a rummage sale, yes,
Senhor, a casa parece como um bazar de caridade
It ain't me, it ain't me,
Não sou eu, não sou eu
I ain't no millionaire's son.
Eu não sou filho de um milionário, não
It ain't me, it ain't me,
Não sou eu, não sou eu
I ain't no fortunate one, no.
Eu não sou nenhum felizardo, não
Yeh, some folks inherit star spangled eyes,
Alguns herdam estrelas reluzentes
ooh, they send you down to war, Lord,
Eles mandam você para a guerra
And when you ask them, how much should we give,
E quando você pergunta a eles:
oh, they only answer, more, more, more, yoh,
"Quanto devemos dar?" Eles apenas respondem: "Mais! Mais! Mais!"
It ain't me, it ain't me,
Não sou eu, não sou eu
I ain't no military son,
Eu não sou filho do senador, não
It iain't me, it ain't me,
Não sou eu, não sou eu
I ain't no fortunate one,
Não sou nenhum filho de felizardo, não

It ain't me, it ain't me,
I ain't no fortunate one, no no no,
It ain't me, it ain't me,
I ain't no fortunate son, no no no,


A Guerra do Vietnã no cinema (em DVD):

Platoon (Oliver Stone num bom momento)
Nascido a 4 de Julho (duro)
Hamburguer Hill  (interpretação realista de uma das mais sangrentas batalhas da guerra)
Nascido para matar (de Stanley Kubrick, que dirigiu O Iluminado e Laranja Mecânica - sentiu a força?)
Hair (mundo bicho-grilo com música e dança - eu adoro)
Apocalypse Now (é Coppola. Não precisa dizer mais nada)
Bom Dia, Vietnã (tremenda trilha sonora)

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