segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Filmes para dia 21 de outubro

Pessoal, agora o tema é o papel dos meios de comunicação. Os filmes para a discussão são:
O quarto poder (dir. Costa-Gravas, EUA, 1997, com John Travolta e Dustin Hoffman)
Muito além do jardim (dir. Hal Ashbt, EUA, 1979, com Peter Sellers e Shirley Mac Laine).
Dessa vez não vou colocar figurinha porque estou com pouco tempo...

sábado, 11 de setembro de 2010

Eletiva: Filmes para dia 23 de setembro

No dia 16 continuaremos discutindo o tema "Criminalidade, violência e política". Para que os debates ganhem mais conteúdo, procurem assistir ao filme Quase dois irmãos ou Quatrocentos contra um. Não conseguiremos avançar muito só com Tropa de elite...
Para a semana seguinte, o tema é "Tolerância e orientação sexual". Os filmes sugeridos são Milk e C.R.A.Z.Y. Mas a discussão pode ser enriquecida se vocês assistirem mais um dos seguintes filmes:

Minha vida em cor de rosa
Meninos não choram
Telma e Louise
Priscila, a rainha do deserto
O Golpista do Ano (I Love You, Phillipe Morris)
Filadélfia
Maurice


C.R.A.Z.Y. - Loucos de Amor (dir. Jean-Marc Valée; Canadá, 2005)












Milk - A voz da igualdade (dir. Gus Van Sant, EUA, 2009)











terça-feira, 31 de agosto de 2010

Para aprofundar os estudos - 3os anos: socialismo utópico e socialismo científico

Pessoal, o texto sugerido foi escrito por F. Engels e permite aprofundar um pouco mais a compreensão das ideias socialistas utópicas e do materialismo dialético. Basta clicar no título da postagem. Boa leitura!

domingo, 29 de agosto de 2010

Filmes para a aula de Eleitiva (02 de setembro)

Queridos, abaixo seguem as indicações dos próximos filmes que iremos discutir. O tema dessa semana é "Criminalidade".
Ao escolher o filme, lembrem-se de prestar atenção não só no roteiro, mas principalmente na maneira como o diretor fez uso dos planos, travellings, cortes, luz e sombra, cores, etc.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Brevíssima história do cinema em imagens (das origens aos anos 60)

Atenção: A exibição abaixo foi criada para servir de eixo condutor para a primeira aula do curso "O mundo contemporâneo em câmera e ação". Por conseguinte, as informações oferecidas aqui são bastante incompletas e resumidas, e devem ser complementadas com os registros de aula.


Em 1895, em pleno clima de otimismo que acompanhava a revolução tecnológica e científica do século XIX,  o público se assombrou pela primeira vez com a exibição de imagens em movimento, capatadas pelo cinematógrafo dos irmãos franceses Louis e Auguste Lumière. Os primeiros filmes ainda não tinham argumento, roteiro, nada. A emoção era ver as imagem se movendo para lá e para cá. Isso bastava para espantar e encantar.



O cinema como espetáculo nasceu pouco depois, com o trabalho de outro francês, Georges Meliès. Apesar de jovem, o cinema já começava a se transformar. Ganhou roteiro e até os primeiros efeitos especiais. Abaixo, Viagem à Lua, de 1902.



Já no final de 1910, os norte-americanos começavam a se destacar na produção cinematográfica. David Griffith dirigiu O Nascimento de uma nação em 1915, no qual abordou várias passagens da história dos EUA, em especial a Guerra Civil. O filme ainda provocou muitas discussões, entre outras razões por causa da apologia que  fazia da KKK, organização racista que se opunha à extensão dos direitos civis para os negros nos EUA. Em seus filmes, Griffith lançou mão dos grandes planos, do uso de montagem paralela, dos flashbacks e das ações dramáticas, inovando a maneira de se fazer cinema.



Nos anos 1920 surgem, nos EUA, os grandes estúdios cinematográficos, aplicando ao cinema a lógica da produção industrial. Nascem, nessa época, os estúdios de Hollywood, Paramount e Twentieth Century Fox. Com eles, despontam os primeiros ídolos do cinema, como Rodolfo Valentino, e os grandes comediantes, como Chaplin.



A década de 1930 chegou acompanhada de uma grande crise econômica e financeira mundial. Em meio à Grande Depressão, despontou Frank Capra, cujos filmes levavam a marca do lirismo e do otimismo, valorizando a liberdade individual e a solidariedade. Na mesma época, já com o cinema sonorizado, a Alemanha ganhou crescente espaço na indústria cinematográfica com a escola expressionista. Um dos grandes expoentes desse cinema vigoroso é Fritz Lang. Abaixo, um trailer do incrível M, o Vampiro de Düsseldorf, de 1931, época em que o nazismo estava em ascensão na Alemanha.



Enquanto o expressionismo alemão buscava transmitir estados de espírito humanos, sentimentos e emoções por meio da interpretação artificial dos atores, das distorções de cenário e de recursos de fotografia (sombra e luz, distorção da perspectiva, etc), na recém fundada União Soviética os cineastas se engajavam nos ideias revolucionários e davam origem ao cinema épico soviético. Nele,  a montagem aparecia como recurso para provocar o olhar crítico do espectador ao lhe oferecer a possibilidade de enxergar a realidade a partir de diversos pontos de vista. A cena da escadaria de Odessa, do filme Encouraçado Potemkin, de Sergei Eisentein, é uma das mais marcantes do cinema mundial e também uma das mais citadas em filmes posteriores, como em Os Intocáveis, de Brian de Palma (1987).



Enquanto isso, na França, onde o cinema nasceu, a grande indústria cinematográfica não havia alçado vôo e a produção filmica ficava por conta de pequenas companhias independentes. Isso favoreceu o desenvolvimento de um "cinema de autor", com estilo pesosal e subjetivo, despreendido das pressões do cinema mais comercial. Um dos representantes desse cinema francês foi Jean Renoir, que dirigiu filmes como A Grande Ilusão (1937).

Nos EUA, as décadas de 1940 e 1950 conheceram a difusão do filme noir, associado, principalmente, às histórias policiais. Como as produções alemãs do período, os filmes noir abusavam das sombras dramáticas, do uso de ângulos incomuns de filmagem e de lentes grande-angulares. Nesse tipo de filme eram comuns as personagens dissimuladas, cujo comportamento se mostrava ambíguo e duvidoso.  O primeiro filme do gênero  foi O falcão maltês, de 1941.



Na Europa, a experiência da guerra abriu as portas para muitos questionamentos e fez serem gestadas novas propostas. Na Itália, o neorealismo voltava-se para o cotidiano de camponeses, operários e pequena burguesia. Usando linguagem simples e poucos recursos, dava preferência às tomadas ao ar livre e às temáticas contestadoras. Um exemplo dessa escola é o filme Roma, cidade aberta de Roberto Rossellini, filmado em 1945, numa Itália destruída pela guerra.



O fim da Segunda Guerra foi acompanhado da afirmação dos EUA como potência internacional. Como reflexo, os filmes norte-americanos consolidam sua posição hegemônica no cenário mundial. É chegado o tempo dos grandes musicais e westerns. O cinema colorido difunde-se nesse período, embora já existisse desde a década de 1930.  A seguir, uma cena clássica com Gene Kelly em Cantando na Chuva, de 1952.




Vários diretores de origem europeia, como o inglês Alfred Hitchcocock, estabeleceram-se nos EUA, onde fizeram carreira. Abaixo, trailer de Os pássaros, um dos meus filmes de suspense preferidos desde criança. Fiquei aterrorizada quando o assiti pela primeira vez, aos 7 anos. Ainda hoje me causa arrepios...

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Enquanto o cinema industrial norte-americano ganhava o mundo, crescia na França uma nova escola cinematográfica, a nouvelle vague, graças à iniciativa de um grupo de críticos cineastas reunidos em torno da revista Cahiers du Cinéma. Entre eles, Françoise Truffaut, Jean-Luc Godard e Alain Resnais.
A principal marca desse cinema foi seu caráter contestatório, de forte viés autoral.  O trecho adiante é do filme  Os Incompreendidos, filmado em 1959. Nele, é contada a história de um pré-adolescente rebelde e desobediente que vive se metendo em confusões. O filme é belo, simples e leve, sem ser piegas. Depois de Trouffaut, os filmes sobre a infância nunca mais seriam os mesmos.



O que vem depois? Fica para a próxima postagem (e aula).

Fonte: Napolitano, Marcos. Como usar o cinema em sala de aula. São Paulo: Contexto

terça-feira, 13 de julho de 2010

Lembranças de outros tempos

Certas músicas estão nas minhas origens. Levecats, do The Cure, marcou o início do meu tempo de faculdade... Esses caras eram muito estranhos e gente estranha sempre foi meu fraco...
Delícia de música!!!

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Ficha de OE do primeiro ano (no.8)

Pessoal, segue a imagem colorida da pintura de Van Eyck que está na ficha para ser analisada. Lembrem-se de não pular nenhuma das etapas indicadas para a análise de imagem.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Proposta de trabalho (optativo) para os terceiros anos com o filme "Mississipi em chamas"

Após assistir ao filme Mississipi em chamas, responda:

1. O que diferencia as atitudes dos dois investigadores do FBI mostrados no filme? Que relação essas atitudes podem ter com a origem de cada um deles?
2. O filme se passa na década de 1960, portanto quase um século depois do término da Guerra de Secessão. De acordo com a visão do diretor, a vitória dos nortistas colocou fim nas diferenças regionais exitentes nos Estados Unidos? Por quê?
3. Pensem na atitude nos soldados negros mostrados no filme Tempos de glória e comparem-na com a atitude das personagens negras do filme Mississipi em chamas. Que diferenças e/ ou semelhanças vocês percebem nelas?
4. Em sua opinião, qual é a imagem dos Estados Unidos construída pelo diretor britânico Alan Parker? Justifiquem a partir de cenas do filme.
5. Pesquisem o movimento político Tea Party, que ganhou destaque na mídia nos útimos meses. Procure saber quem o organiza, que perfil têm seus participantes, em que regiões dos Estados Unidos o movimento fez mais adeptos, o que ele defende, em nome de que valores concentrou-se e que avaliação seus integrantes fazem do governo Obama.
A seguir, respondam: A organização desse movimento nos sugere uma continuidade ou uma ruptura com a mentalidade dos habitantes de Mississipi mostrados no filme? Por quê?

sábado, 1 de maio de 2010

Breve apresentação para os terceiros anos do filme "Mississipi em chamas"

Antes de assistir ao filme e realizar a proposta de trabalho que será exibida aqui a partir de 10/ 05, dê uma olhadinha na apresentação abaixo para saber do que trata o filme Mississipi em chamas.


Ficha Técnica

Mississipi em Chamas (Mississipi Burning)
País/Ano de produção:- Estados Unidos, 1988
Duração/Gênero:- 122 min., Drama/Policial
Direção de Alan Parker
Roteiro de Chris Gerolmo
Elenco:- Gene Hackman, Willem Dafoe, Frances McDormand, Brad Dourif, R. Lee Ermey, Gailard Sartain, Michael Rooker, Stephen Tobolowsky

A Ku Klux Klan

Na sala do 3o ano B surgiram questões acerca da origem e desenvolvimento da Ku Klux Klan, nos Estados Unidos, após a Guerra de Secessão. Para alimentar o interesse pelo tema, segue uma adptação do artigo "As muitas vidas da Ku Klux Klan", de Paul-Eric Blanrue, publicado na revista História Viva, em julho de 2005.

Estamos em 1865. Em um sul devastado, arruinado pelo desemprego e pela miséria, jovens veteranos da confederação sulista, o conjunto de estados que se separou da união, inventam algo para passar o tempo.
No dia 24 de dezembro, em Pulaski, obscuro centro administrativo do Tennessee, seis deles - Calvin Jones, Frank McCord, Richard Reed, John Kennedy, John Lester e James Crowe - se reúnem para fundar uma associação. Nada de política. A idéia era apenas prolongar a fraternidade das armas. Respeitando a tradição dos clubes de estudantes, os colegas batizaram a comunidade com um nome cercado de mistério.
Egresso do Center College do Kentucky, Kennedy adotou a palavra grega kuklos, que significa "círculo". Crowe a dividiu em dois e mudou o final, chegando a "ku klux". Observando que os fundadores eram de origem escocesa, Lester propôs acrescentar ao nome uma evocação ao "clã", em harmonia com a ortografia adotada. Crowe achou divertida a idéia de fantasiar os membros, assim como seus cavalos, com panos e capuzes roubados da casa de seus hóspedes. Assim nascia a Ku Klux Klan.
O que começou como uma brincadeira logo mudou de natureza. Os desfiles mascarados, realizados pelos seis amigos, tinham como objetivo aterrorizar os negros, sem instrução e supersticiosos, que acreditavam cruzar com os fantasmas dos confederados mortos em combate. Instrumentalizavam, portanto, o medo do além. Os sulistas empobrecidos viram nisso uma oportunidade de trazer de volta para o trabalho nas plantações os 4 milhões de negros que Abraham Lincoln tinha liberado com a Proclamação da Emancipação de 1o de janeiro de 1863. Não precisava de mais nada para os encapuzados seguirem com sua perseguição. Sob o pretexto de manter a ordem, divertiam-se em aterrorizar os negros, utilizando diversos dispositivos para dar credibilidade a seus poderes sobrenaturais: ossos de esqueletos escondidos sob os tecidos com que se cobriam, para apertar a mão dos antigos escravos alforriados, abóboras habilmente recortadas, que colocavam e retiravam rapidamente, para evocar a lenda do cavaleiro sem cabeça etc.
A Klan adquiriu, assim, uma sólida notoriedade na região. Para evitar as denúncias, o segredo se tornou um componente essencial da pequena comunidade, ajudado pelo anonimato garantido pelo capuz (...). Tentados pela perspectiva de aplicar, impunemente, trotes contra negros, candidatos das cidades vizinhas afluíam. (...) Quanto mais a Klan se desenvolvia, mais a gama de violências aumentava. (...)


Ondas da violência
As atividades da Klan eram invariavelmente baseadas no racismo. Uma delas, pouco conhecida, era de ordem eleitoral. Consistia em obrigar os negros, por meio de visitas-surpresa no meio da noite, acompanhadas por chibatadas e ameaças de morte, a votar pelos democratas (os republicanos eram assimilados aos inimigos do Norte) ou a se abster. (...) A organização também declarou guerra ao arsenal de liberdades concedidas aos negros, principalmente a livre associação. (...)
A Klan atacava os negros que tinham conseguido juntar alguns bens no pós-guerra, em nome do raciocínio segundo o qual eles eram preguiçosos, inconstantes e economicamente incapazes e, por natureza, destinados à escravidão. (...) Outro alvo privilegiado eram os funcionários ianques, ou seja, do Norte, e mais precisamente os professores que, vindos dali, davam aulas para os negros nos estados do Sul. Perigo terrível: se os negros se instruíssem, o retorno à época de ouro da escravidão seria impossível, pensavam. (...) Os jovens professores eram considerados traidores, responsáveis pela decadência. Daí os insultos e cartas ameaçadoras que começaram a aparecer: "Antes do fim do próximo quarto [de lua], desapareça, professor ímpio de negros! Desapareça antes que seja tarde! O castigo o espera com tais horrores que nenhum homem poderá sobreviver". No Mississipi a repressão atingiu seu maior grau: escolas incendiadas, mestres roubados, assassinatos. (...).
A Klan não recuava diante de nada. Tratou de liquidar até o senador republicano Stephens, apunhalado em pleno tribunal. Diante de tais excessos, o governo decidiu reagir firmemente. Em 20 de abril de 1871, o presidente Ulysses S. Grant assinou um ato draconiano, que colocava o grupo na ilegalidade. Autorizava, inclusive, o uso da força para dissolver núcleos de associados. Seis meses mais tarde, foi decretada a lei marcial em nove condados da Carolina do Sul. Membros do exército denominados Azuis foram enviados para lá, imediatamente, e realizaram milhares de prisões. Por falta de provas, a maioria dos detentos foi solta, mas a derrota foi dolorosa. Para escapar à perseguição, os membros da Klan se espalharam em novos organismos: White League, Shot Gun Plan, Rifle Club. Mas a Klan original, mesmo, foi aniquilada.


Sono de meio século
Para os rebeldes do Sul, nostálgicos exaltados, os klanistas adquiriram logo o status de heróis românticos. O retorno à atividade política aconteceria por uma via inesperada: o lançamento, em 1915, do filme O nascimento de uma nação, de D. W. Griffith, baseado em romance de Thomas Dixon. Nessa obra, o diretor (...) "não esconde a simpatia pelos sulistas e toma abertamente partido pela Ku Klux Klan". O presidente dos Estados Unidos, Woodrow Wilson, apoiou o filme. Para um de seus espectadores, William J. Simmons, era uma revelação. Originário do Alabama, veterano da guerra contra a Espanha, pregador metodista, representante comercial e associado a diversas sociedades maçônicas, Simmons tirou proveito do sucesso do filme e do descontentamento popular devido às imigrações recentes para relançar a KKK. No dia de Ação de Graças de 1915, aquele que se autoproclamava "coronel" reuniu alguns fiéis no cume da Stone Mountain, a leste do Alabama. Ele incendiou uma imensa cruz de madeira: "Eis o Império invisível tirado de seu sono de meio século".
A Klan em "novo formato" retomou a receita que fez o sucesso do antigo: supremacia branca e racismo antinegro. E acrescentou a rejeição ao catolicismo, considerado invasor. A imigração recente incitava a cultivar o anti-semitismo e a xenofobia. Mas esse renascimento parecia bastante com uma operação comercial. Cada associado pagava uma cotização, tinha uma apólice de seguro, comprava sua veste de klanista etc. Com o capitalismo, o "espírito do Sul" se perdeu no caminho. (...)
No entanto, a KKK só se desenvolveu realmente a partir de 1920 (...). Em um ano, o Sul foi "reconquistado" e, novidade, o Norte - onde os negros pobres se espremiam nos bairros suburbanos - ficou seriamente tentado, em particular os estados de Indiana, Oklahoma e Oregon. Republicanos e burgueses das cidades ficaram seduzidos. Estima-se que o número de klanistas logo chegou a cinco milhões. Como numa holding, a Klan aproveitou o apoio popular para diversificar suas atividades: publicou jornais e folhetos, comprou imóveis, assumiu o controle da Lanier University. (...). Em 1924, durante a renovação do corpo legislativo, 11 governadores e diversos senadores receberam a investidura da Klan. Triunfo. O QG mudou-se para Washington. No ano seguinte, uma lei restringindo a imigração foi votada. Para demonstrar sua força, a Klan organizou um desfile monstruoso na capital.
Mas o entusiasmo não tardaria a cair de novo. Fortalecido pela relativa neutralidade da polícia e pelo apoio de diversos magistrados locais, a Klan, copiosamente armada, multiplicou seus atos de crueldade. Os "negros" que a organização caçava, ou aqueles que se confraternizavam com eles, homens da lei - políticos e pastores incluídos -, tinham os cabelos raspados, eram marcados na testa com as três iniciais klânicas, açoitados ou ainda cobertos por asfalto, no qual enfiavam-se plumas. Apresentando-se como guardiã da moralidade pública, a Klan punia as mulheres adúlteras, os médicos charlatões, as prostitutas e os marginais. O cenário era repleto de crimes assustadores, como o de "justiçados" moídos por um trator. (...)
Nos anos 1930, o nazismo exerceu uma certa atração sobre a KKK. Não passou disso, porém. A aproximação com germanistas foi bruscamente encerrada na Segunda Guerra Mundial, depois do ataque japonês à base americana de Pearl Harbor, quando muitos membros se alistaram no exército para lutar contra o "perigo amarelo". Só faltava o tiro de misericórdia ao império invisível. Em 1944, o serviço de contribuições diretas cobrou uma dívida da Klan, pendente desde 1920. Incapaz de honrar o compromisso, a organização morreu pela segunda vez.
Apesar de diversas tentativas de ressurreição (num âmbito mais local que nacional), a KKK não obteve mais o sucesso de antes da guerra. As mentalidades evoluíram. A ameaça de crise estava a partir de então descartada, tendo o soldado negro mostrado que era capaz de derramar tanto sangue quanto o branco. (...) Alguns klanistas ainda insistiram e suscitaram, temporariamente, uma retomada de interesse entre os WASP (sigla em inglês para protestantes brancos anglo-saxões) frustrados, que não compunham mais a maioria da população americana.
Nos anos 1950, a promulgação da lei contra a segregação nas escolas públicas despertou novamente algumas paixões, e cruzes se acenderam. Seguiram-se batalhas, casas dinamitadas e novos crimes (29 mortos de 1956 a 1963, entre eles 11 brancos, durante protestos raciais). Os klanistas tentaram se reciclar no anticomunismo, combatendo os índios ou atenuando seu anticatolicismo fanático. Mas nada surtiu grande efeito e o declínio da Klan já tinha começado desde o fim dos anos 1960, época em que só contava com algumas dezenas de milhares de membros.

Apesar de ser  uma organização em franca decadência, a KKK exite ainda hoje, mantendo, inclusive, um site na internet pelo qual recebe adesão de novos membros. Embora não haja mais registro de assassinatos cometidos pela organização, são frequentes as manifestações de intolerância e racismo promovidas por ela.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

O que gente criativa e com muito conhecimento musical faz por aí

O Mawaca é formado por músicos que se dedicam à pesquisa de música étnica. Encabeçado por Magda Pucci, o grupo transita pelos ritmos mais diversos - de música japonesa à nordestina, passando por música indígena e indiana. Seus integrantes tocam de tudo também: flauta transversal, cítara, oboé, todo tipo imaginável de percurssão e instrumento de sopro...
O show é uma delícia: colorido, alegre, diverso. É uma viagem e uma descoberta.
Abaixo, Kali, com dança da talentosa Zuzu Abu.
Recomendo.

Música para protestar

Final da década de 1960. De um lado, os Estados Unidos defendendo a ferro e fogo o sistema capitalista, do qual se tornaram os maiores beneficiários; do outro, a União Soviética, buscando difundir a todo custo o comunismo. Entre os dois, o resto do mundo...
Um dos mais cruéis embates dessa queda de braço desenrolou-se em solo asiático, depois que a antiga Indochina, liberta do domínio colonial francês em 1954, dividiu-se em dois estados: ao sul, estabeceu-se um Vietnã  aliado ao Ocidente; ao Norte, sob o comando do principal líder da independência, Ho Chi Minh, instituia-se um Vietnã de orientação comunista.

De acordo com o tratado assinado em Genebra por ocasião da Independência, em  1956, seriam realizadas eleições livres para unificar o país. Contudo, a perspectiva de uma vitória de Ho Chi Minh preocupava o governo estadunidense, que temia o avanço do comunismo na Ásia. Por isso, quando o governo ditatorial de Ngo Dhin Diem assumiu o controle do Vietnã do Sul e determinou a suspensão das eleições, os norte-americanos, mais do que depressa, lhe ofereceram apoio aberto.
A partir de então, o governo sul-vietnamita passou a perseguir sistematica e violentamente nacionalistas e comunistas. Estes reagiram e, em 1960, com apoio dos vietnamitas do norte, formaram uma frente de resistência, a Frente de Libertação Nacional, que impôs uma série de derrotas ao governo de Ngo Dhin Diem.
Incapaz de debelar as forças inimigas, o ditador pediu auxílio aos Estados Unidos. O apoio foi imediatamente enviado e não parou mais de crescer: no ano de 1960, desembarcaram em solo vietnamita 900 soldados norte-americanos. Nove anos depois, 540 mil homens deixavam a América para se juntar às tropas combatentes do outro lado do mundo!
Todavia, a desavergonhada inteferência dos Estados Unidos no Vietnã não trouxe vitória. Muito pelo contrário: as baixas norte-americanas cresciam dia após dia. Os integrantes da Frente, conhecidos como vietcongs, adotavam táticas de guerrilha. Embrenhados pela densa vegetação do Vietnã, misturados à população camponesa, confundiam e atordoavam os soldados ocidentais.
Corria o ano de 1969 e a guerra ainda se arrastava. Contavam-se já aos milhares os jovens cujas vidas haviam sido perdidas no combate, além de outros tantos feridos e mutilados. Muitos voltavam da guerra com serios danos psicológicos, completamente incapacitados.
Na mídia, a crescente divulgação das imagens horrendas da guerra - fotografias comoventes dos cadáveres despedaçados,  dos rostos quase pueris dos soldados norte-americanos contorcidos pela dor e pelo cansaço, das mulheres e crianças vietnamitas tragicamente queimadas pelas armas químicas usadas pelos Estados Unidos, - fez crescer o clamor da opinião pública pelo fim da guerra. Na ensolarada Califórnia nascia assim o embrião do movimento flower and power.
Foi nesse cenário que o rock norte-americano produziu algumas de suas canções mais fortes e engajadas. Neil Young, Creedence Clearwater, Bob Dylan, entre outros, fizeram coro pelo fim do conflito.
Foram anos de pressão e mobilização, cujo desfecho, em algumas ocasiões, foi trágico. Em Ohio, por exemplo, durante uma manifestação pacífica, quatro jovens universitários acabaram mortos pela polícia.
Finalmente, em 1975, os combates no Vietnã chegaram ao fim. Os vietcongs e o Vitenã do Norte tomaram o sul e unificaram o país. Da guerra, além dos mortos (cerca de 2 milhões),  restou a memória da barbárie, imortalizada em músicas inesquecíveis. Essa é Fortunate Son, do Creedence Clarwater.



Fortunate Son
Filho De Um Milionário

Some folks are born made to wave the flag,
Alguns nasceram para agitar a bandeira
ooh, they're red, white and blue.
Elas são vermelhas, brancas e azuis
And when the band plays "Hail To The Chief",
E quando a banda toca "Saudação ao Chefe"
oh, they point the cannon at you, Lord,
Eles apontam os canhões para você, Senhor
It ain't me, it ain't me,
Não sou eu, não sou eu
I ain't no senator's son,
Eu não sou filho do senador, não
It ain't me, it ain't me,
Não sou eu, não sou eu
I ain't no fortunate one, no,
Não sou nenhum felizardo, não
Some folks are born silver spoon in hand,
Alguns nasceram com colher de prata na mão
Lord, don't they help themselves, oh.
Senhor, eles não se ajudam
But when the taxman come to the door,
Mas quando o coletor de impostos chega na porta
Lord, the house look a like a rummage sale, yes,
Senhor, a casa parece como um bazar de caridade
It ain't me, it ain't me,
Não sou eu, não sou eu
I ain't no millionaire's son.
Eu não sou filho de um milionário, não
It ain't me, it ain't me,
Não sou eu, não sou eu
I ain't no fortunate one, no.
Eu não sou nenhum felizardo, não
Yeh, some folks inherit star spangled eyes,
Alguns herdam estrelas reluzentes
ooh, they send you down to war, Lord,
Eles mandam você para a guerra
And when you ask them, how much should we give,
E quando você pergunta a eles:
oh, they only answer, more, more, more, yoh,
"Quanto devemos dar?" Eles apenas respondem: "Mais! Mais! Mais!"
It ain't me, it ain't me,
Não sou eu, não sou eu
I ain't no military son,
Eu não sou filho do senador, não
It iain't me, it ain't me,
Não sou eu, não sou eu
I ain't no fortunate one,
Não sou nenhum filho de felizardo, não

It ain't me, it ain't me,
I ain't no fortunate one, no no no,
It ain't me, it ain't me,
I ain't no fortunate son, no no no,


A Guerra do Vietnã no cinema (em DVD):

Platoon (Oliver Stone num bom momento)
Nascido a 4 de Julho (duro)
Hamburguer Hill  (interpretação realista de uma das mais sangrentas batalhas da guerra)
Nascido para matar (de Stanley Kubrick, que dirigiu O Iluminado e Laranja Mecânica - sentiu a força?)
Hair (mundo bicho-grilo com música e dança - eu adoro)
Apocalypse Now (é Coppola. Não precisa dizer mais nada)
Bom Dia, Vietnã (tremenda trilha sonora)

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Progresso Americano (1872), de J. Gast

Para que os alunos dos Terceiros possam fazer a análise de imagem proposta na FH5, segue uma reprodução colorida do quadro de J. Gast.

A força dos antigos

Ninguém sabe ao certo se Homero existiu. E se existiu, também não é certo que tenha criado os dois poemas épicos que consagraram seu nome: Ilíada e Odisséia. Para muitos estudiosos, se Homero existiu de fato, provavelmente seu papel foi reunir e dar forma a diversas histórias muito antigas que por séculos eram cantadas pelos aedos em banquetes, onde se reuniam os guerreiros para rememorar seus grandes feitos e os atos de bravura de seus antepassados.  Afinal, era assim que a aristocracia grega legitimava seu domínio sobre o resto da população: ela descendia dos heróis do passado e era herdeira de suas virtudes, como força, coragem e espírito arguto. Compunha, por conseguinte, o grupo seleto dos aristoi - ou seja, "os melhores".
Seja como for, é difícil não se comover com a grandeza dos versos de Homero. Eles têm um poder impressionante de sacudir nossos sentidos e arrebatar a alma. Para ilustrar o que digo, dêem uma lidinha nos versos abaixo, que contam como o nobre Heitor perece sob a espada de Aquiles.

 A morte de Heitor

Assim dizendo, desembainhou a espada afiada,
que pendia sob o flanco, espada enorme e potente;
reunindo as suas forças, lançou-se como a águia de voo sublime,
que através das nuvens escuras se lença em direcção à planície
para arrebatar um terno cordeiro ou tímida lebre -
assim arremeteu Heitor, brandindo a espada afiada.

E Aquiles atiorou-se a ele, com o coração cheio de ira
selvagem, e cobriu o peito à frente com o escudo,
belo e variegado, agitando o elmo luzente
de quatro chifres. Belas se agitavam as crinas
douradas, que Hefesto pusera cerradas como penacho.
Como o astro que surge entre as outras estrelas no negrume da noite,
a estrela da tarde, que é o astro mais belo que está no céu -
assim reluziu a ponta da lança, que Aquiles apontou
na mão direita, preparando a desgraça para o divino Heitor,
olhando para a bela carne, para ver onde melhor seria penetrada.

Ora todo o corpo de Heitor estava revestido pelas brônzeas armas,
belas, que ele despira a Pátroclo depois de o matar.
mas aparecia, no sítio onde a clavícula se separa do pescoço
e dos ombros, a garganta, onde rapidíssimo é o fim da vida.
Foi aí que com a lança arremeteu furioso o divino Aquiles,
e aponta trespassou completamente o pescoço macio.
Mas a lança de freixo, pesada de bronze, não cortou a traqueia,
para que Heitor ainda pudesse proferir palavras em resposta.
Tombou na poeira. E sobre ele exultou o divino Aquiles:
"Heitor, porventura pensaste quando despojavas Pátroclo
que estariass a salvo e não pensaste em mim, que estava longe.
Tolo! Longe dele um auxiliador muito mais forte
nas côncavas naus ficara para trás: eu próprio, eu que agora
te deslassei os joelhos. Os cães e as aves de rapina irão
dilacerar-te vergonhosamente, mas a Pátroclo sepultarão os Aqueus."

Já quase sem forças lhe respondeu Heitor do elmo faiscante:
"Suplico-te pela tua alma, pelos teus joelhos e pelos teus pais,
que me não deixes ser devorados pelos cães nas naus dos Aqueus;
mas recebe o que for preciso de bronze e de ouro,
dons que te darão meu pai e minha excelsa mãe.
Mas restitui o meu cadáver a minha casa, para que do fogo
Troianos e mulheres dos Troianos me dêem, morto, a porção."
Fitando-o com sobrolho carregado lhe disse o veloz Aquiles:
"Não me supliques, ó cão, pelos meus joelhos ou meus pais.
Quem me dera que a força e o ânimo me sobreviessem
para te cortar a carne e comê-la crua, por aquilo que fizeste.
Pois homem não há que da tua cabeça afastará os cães,
nem que eles trouxessem e pesassem dez vezes ou vinte vezes
o resgate e me prometessem ainda mais do que isso!
Nem que o teu próprio peso em ouro me pagasse
Príamo Dardânio. Nem assim a tua excelsa mãe
te deporá num leito para chorar o filho que ela deu à luz,
mas cães e aves de rapina te devorarão todo completamente."

 Moribundo lhe disse então Heitor do elmo faiscante:
"Na verdade te conheço bem e direi o que será; mas convencer-te
era algo que não estava para ser. O coração no teu peito é de ferro.
Mas reflecte bem agora, para que eu para ti me não torne
maldição dos deuses, no dia em que Páris e Febo Apolo
te matarão, valente embora sejas, às Portas Esqueias."
Assim dizendo, cobriu-o o termo da morte.
E a alma voou-lhe do corpo para o Hades, lamentando
o seu destino, deixando para trás a virilidade e a juventude.
E para ele, já morto, assim disse o divino Aquiles:
"Morre.O destino eu aceitarei, quando Zeus quiser
que se cumpra e os outros deuses imortais."

Ilíada, canto XXII, v. 306-366 (trad. Frederico Lourenço)
extraído de http://epicentro.blogs.sapo.pt/arquivo/752506.html

terça-feira, 20 de abril de 2010

Para entender A Marcha

Alguns alunos têm se perdido na multidão de personagens que povoa o livro A Marcha. Muitos têm encontrado também dificuldade para compreender quem são os soldados da "União" (os ianques) e contra quem, afinal, lutam. Assim, ficam aqui, adiantados, alguns esclarecimentos.
O romance se passa no contexto da guerra civil norte-americana, a Guerra de Secessão, que eclodiu nos Estados Unidos entre 1861 e 1865. Essa guerra opôs as regiões do Norte e do Sul do país e teve como um de seus principais focos de conflito a questão da escravidão. Para muitos historiadores, ela também refletiu o desenvolvimento desigual das duas regiões: enquanto a sociedade nortista apoiava-se no predomínio da pequena propriedade, no trabalho livre e no desenvolvimento das manufaturas, a sulista mantinha-se apegada à agricultura de exportação, que buscava expandir, baseada no latifúndio e no emprego de mão-de-obra escrava.
Em 1860, Abrahan Lincoln elegeu-se presidente pelo Partido Republicano. Identificado com as posições abolicionistas moderadas, recebeu forte apoio dos representantes dos estados do Norte, mas foi repudiado pelos do Sul. O estado da Carolina do Sul decidiu então abandonar a União - ou seja, separar-se do resto do país, sendo seguida por outros seis estados que, juntos, formaram os Estados Confederados da América.
Em 12 de abril de 1861, tropas confederadas bombardearam o forte Sumter, na baía de Charleston, Carolina do Sul, que era guarnecido por tropas federais. Era o início da guerra.

Lincoln passou a defender um plano para derrotar os Estados Confederados e obrigá-los a se reintegrarem aos Estados Unidos: formaria um exército enorme e atacaria os rebeldes de todos os lados e ao mesmo tempo. Lincoln apostava que, mais cedo ou mais tarde, a superioridade numérica e econômica do Norte acabaria se impondo.
O pedido do presidente para que os estados fornecessem tropas para enfrentar os confederados acabou levando outros três estados a se declararem independentes da União, entre eles o estado da Virgínia. Àquela altura, ao todo onze estados declaravam-se separados da União: Virgínia, Carolina do Norte, Carolina do Sul, Geórgia, Flórida, Alabama, Mississippi, Louisiana, Arkansas, Texas e Tennessee.
A guerra foi arrastada e causou a devastação dos estados do Sul. Deixou um saldo impressionante de mortos: cerca de 624 mil, praticamente o mesmo número de vítimas fatais de todas as guerras das quais os Estados Unidos participaram até hoje. Terminou com a vitória do Norte.

Mais, só na aula...

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Sobre o estranhamento

Assisti recentemente Guerra ao Terror. Não costumo me empolgar com filmes vencedores de Oscar, mas fiquei curiosa em relação a esse. Queria conferir qual era a orientação política da diretora.
Talvez porque não esperasse muito de Guerra ao Terror, acabei me surpreendendo com ele. Não é, certamente, o filme da minha vida, mas há um elemento bastante curioso nele: a impossibilidade de compreensão de um inimigo cujos códigos de linguagem me são estranhos.
No filme, um grupo de soldados estadunidenses especializado em desarmar bombas vive momentos dramáticos de tensão no Iraque. O argumento favoreceria uma visão bem "bushiana" da presença norte-americana no país do Oriente Médio, mas não é o que acontece.
Assitimos boa parte da história pelos olhos dos soldados. A filmagem é feita como se fizessemos parte do grupo, como se compartilhássemos com os soldados seu ponto de vista. E é daí que decorre boa parte da tensão do filme, pois, no Iraque, nada é o que parece ser. A todo momento somos induzidos ao erro: não percebemos o perigo onde ele está e adivinhamos fantasmas onde não há o que ver.
Essa confusão toda é resultado apenas de nossa incompreensão do "outro". Não entendemos sua língua, seus gestos, seus olhares. Não somos minimamente capazes de interpretar seu mundo e seus valores. E numa situação dessas, fica difícil também saber o que "fazemos" (no plural, já que acabamos nos identificando com os soldados estadunidenses) nessa guerra. No fim, somos arrastados para ela por impulsos irrefletidos, por um vício pela ação. Não há, enfim, causa ou ideologia que justifique uma guerra contra aqueles a quem não entendemos e com quem não saberíamos sequer por onde iniciar o diálogo...
Assistam. É beeeem interessante e eletrizante!

domingo, 18 de abril de 2010

Cerimônia cristã etíope

Os primeiros anos do Ensino Médio começaram agora os estudos sobre História da África. Viram, em sala, que o lugar onde o cristianismo se difundiu há mais tempo foi a Etiópia. Ali, tornou-se religião do Estado no século IV, sob o rei Ezana, numa época em que boa parte da Europa ainda não se havia cristianizado. No final do século V, missionários ligados à Igreja copta ortodoxa de Alexandria (Egito) deixaram sua marca decisiva na região. E mesmo depois da penetração islâmica no continente, cerca de 40% da população etíope ainda é cristã ortodoxa e mantêm rituais e hinos cuja origem é muito antiga e adquiriram, desde sua difusão, carcaterísticas bastante particulares. O vídeo nos dá um pouco da ideia de como a cultura etíope e o cristianismo se combinaram de maneira original.

Muitos caminhos possíveis



Foi em 2001 ou 2002, não me lembro bem. Na ocasião o Thiago cursava a sétima série e era um aluno irriquieto, bagunceiro, às vezes até respondão. Ele dava trabalho, mas eu reconhecia nele uma inteligência criativa, vibrante, e achava que o menino teria futuro - mesmo não tendo o desempenho escolar de que era capaz. Eu fazia força para ter paciência com ele - não nego... Mas não conseguia não me encantar com o sorriso malandro e os olhinhos escuros, brilhantes, vivos daquele garotinho magricela.
Pois o Thiago cresceu e, com a banda que formou, vem fazendo um trabalho musical bem legal. O que prova que a escola é um caminho importante da formação do indivíduo, mas não é o único. Isso talvez relativize um pouco o poder que nós, professores, pensamos ter sobre o futuro de nossos pupilos. Mais: talvez nos faça pensar na razão de não conseguirmos sempre mobilizar todo esse potencial dos jovens em favor de seu crescimento pessoal...
Talvez as coisas fossem diferentes se também os estudantes, ao invés de negarem a escola, se posicionassem de maneira mais crítica e reflexiva em relação a ela, buscando participar de sua transformação e fazendo-a vir ao encontro de seus anseios e expectativas.
Dêem uma olhada no trabalho desse menino que foi, para mim, um desafio e, do jeito dele, me fez crescer muito como educadora. Vale a pena conferir! O som é mesmo muito bom!


sábado, 17 de abril de 2010

Um dedinho de prosa com os alunos



Sou descendente de educadores. Meu bisavô, René de Oliveira Barreto, foi um pedagogo de destaque no início do século XIX, assim como seu irmão, Arnaldo Barreto, autor da Cartilha Analytica.  Minha bisavó, Rita de Macedo Barreto (na foto ao lado), escrevia livros de alfabetização para crianças e foi com isso que sustentou com conforto um batalhão de filhos depois da morte prematura do marido.
Mas a coisa não pára por aí. Minha avó paterna também era educadora, como todas as irmãs dela e várias de suas sobrinhas. Lecionava Educação Física, numa época em que a área engatinhava, e foi professora catedrática da Universidade de São Paulo lá pela década de 1930, talvez um pouco depois.
Quanto ao meu pai, não era professor. Era pesquisador científico, especializado em micologia. Eventualmente dava aulas na pós da Faculdade de Agronomia Luiz de Queiróz (USP) e, quando eu me atrapalhava muito na escola, ensinava-me Biologia. Contudo, fazia isso com uma paixão enorme. Tinha jeito para a coisa...
Mas nada disso tinha significado para mim na época em que pensava na carreira que escolheria. Quando menina, jamais sonhei em me tornar professora. Nem ao menos conhecia bem esse histórico familiar e, ainda que tivesse ciência dele, certamente não teria a menor atração por um campo profissional tão desvalorizado. Alimentava outros projetos: seria desenhista, publicitária...
Já às vésperas do vestibular, mudei de ideia e decidi que seria historiadora, que convinha mais a meu jeito bicho-grilo de ser e minha orientação política à esquerda do espectro ideológico. Terminei a graduação na USP, fiz mestrado em História Social, publiquei minha tese. Tudo caminhava bem para o início de uma promissora carreira acadêmica. Todavia, alguma coisa foi maior do que meus planos e conspirou contra eles...
Comecei a dar aula unicamente para ter algum dinheiro com que me sustentar. Era uma atividade que deveria ter começo, meio e fim. Não pretendia prolongá-la. Muito pelo contrário, planejava fazê-la o mais breve possível para alçar logo outros vôos.
Mas, quando me dei conta, estava absolutamente encantada pela sala de aula. Ali não existia rotina. Todo dia eu encontrava uma situação nova que me arrancava do insuportável risco de viver presa ao tédio da mesmice, pois a sala de aula se assemelha a um grande organismo vivo, gelatinoso, flexível, que a cada dia respira em um ritmo diferente e muda de forma. Aquilo me estimulava e desafiava. Exigia reflexão, criatividade, disposição para fazer tudo novo a cada manhã.
No fim, contra todos meus planos e projetos, tornei-me professora, como minhas primas, minha avó e meus bisavôs. Hoje, não me imagino fazendo outra coisa. Por isso, acredito que o amor pela Educação deva ter um componente genético qualquer. Está no sangue. É uma força que se exerce de dentro para fora, maior do que qualquer razão que possa nos aconselhar a seguir outro caminho, onde a remuneração e o reconhecimento público sejam melhores.